segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os 3 céus


                                Há três céus e eles são entre si distintíssimos: o íntimo ou terceiro, o médio ou segundo e o último ou primeiro. Eles estão em seqüência um ao outro, e subsistem entre si, como a parte superior do homem, que se chama cabeça, seu meio, que se chama corpo, e o último, que é chamado pés, tais como as partes mais alta, média e mais baixa de uma casa. Em uma tal ordem se acha também o Divino que procede e desce do Senhor. Daí, por necessidade de ordem, o céu é dividido em três partes.
                                 Os interiores do homem, que pertencem à sua mente e ao seu ânimo, também estão em uma ordem semelhante. Ele tem um íntimo, um médio e um último, porque no homem, quando ele foi criado, foram reunidas todas as coisas da ordem Divina, a tal ponto que ele foi a ordem Divina em forma e, por conseguinte, um céu na menor efígie. É também por isso que o homem se comunica com os céus quanto a seus interiores e é também porque ele fica entre os anjos depois da morte - entre os anjos do céu íntimo, ou do céu médio, ou do último céu, segundo a recepção, durante sua vida no mundo, do Divino bem e da Divina verdade que procedem do Senhor.
                                  O Divino que eflui do Senhor e que é recebido no terceiro céu ou céu íntimo chama-se celeste e, por conseguinte, os anjos desse céu chamam-se anjos celestes. O Divino que eflui do Senhor e que é recebido no segundo céu ou céu médio chama-se espiritual e, por conseguinte, os anjos desse céu chamam-se anjos espirituais. O Divino que eflui do Senhor e que é recebido no último ou primeiro céu é chamado natural. Contudo, o natural desse céu não sendo como o natural do mundo, mas tendo em si o espiritual e o celeste, é chamado espiritual-natural e celeste-natural e, por isso, os anjos que o habitam chamam-se espirituais-naturais e celestes-naturais. São chamados espirituais-naturais os que recebem o influxo do médio ou segundo céu, que é o céu espiritual, e são chamados celestes-naturais os que recebem o influxo do céu íntimo ou terceiro céu, que é o céu celeste. Os anjos espirituais-naturais e os anjos celestiais-naturais são distintos entre si, mas sempre constituem um mesmo céu, porque estão no mesmo grau.
                                     Há em cada céu um interno e um externo. Os anjos que lá estão no interno são chamados anjos internos e os que estão no externo são chamados anjos externos. O externo e o interno nos céus, ou em cada céu, são lá como o voluntário e o intelectual do voluntário no homem, o interno como voluntário e o externo com intelectual do voluntário. Todo voluntário tem seu intelectual, pois um não existe sem o outro. O voluntário pode ser comparado à chama e o intelectual à luz que procede da chama.
                                     Cumpre bem saber que os interiores dos anjos fazem com que eles estejam em um céu ou em outro, pois, quanto mais os interiores são abertos para o Senhor, tanto mais eles estão em um céu interior. Há três graus de interiores, tanto em cada anjo como em cada espírito e também em cada homem. Aqueles nos quais o terceiro grau foi aberto estão no céu íntimo. Aqueles que tiveram aberto o segundo grau estão no céu médio, e os que tiveram aberto o primeiro grau estão no último céu. Os interiores são abertos pela recepção do Divino bem e da Divina verdade. Aqueles que são afetados pelas Divinas verdades e as admitem logo na vida, por conseguinte na vontade e, por este fato, no ato, estão no céu íntimo ou terceiro céu, e lá estão segundo a recepção do bem pela afeição da verdade. Aqueles que, entretanto, as admitem, não imediatamente na vontade, mas na memória e, portanto, no entendimento, e depois as querem e fazem, estão no céu médio ou segundo céu. Aqueles que vivem em sã moral e crêem no Divino, e não se importam tanto em serem instruídos, estão no último ou primeiro céu. Daí se pode ver que os estados dos interiores fazem o céu e que o céu está dentro e não fora de cada um. É também o que o Senhor ensina, dizendo: "Não vem o reino de Deus visivelmente, nem dirão: Ei-lo aqui ou ei-lo ali, porque o reino de Deus está dentro de vós" (Lucas 17:20 e 21).
                                      Toda perfeição também cresce para os interiores e decresce para os exteriores, pois os interiores estão mais perto do Divino e são em si mesmos mais puros, e os exteriores são mais afastados do Divino e em si mesmos mais densos. A perfeição angélica consiste na inteligência, na sabedoria, no amor, em todo bem e, por conseguinte, na felicidade, mas não na felicidade sem essas coisas, porque sem elas a felicidade é externa e não interna. Como os interiores dos anjos do céu intimo foram abertos no terceiro grau, a sua perfeição excede em muito à perfeição dos anjos do céu médio, cujos interiores foram abertos no segundo grau. Do mesmo modo, a perfeição dos anjos do céu médio excede em muito à perfeição dos anjos do último céu.
                                       Porque há uma tal diferença, o anjo de um céu não pode vir entre os anjos de um outro céu, isto é, o de um céu inferior não pode subir, nem o de um céu superior pode descer. Aquele que sobe de um céu inferior é acometido por uma ansiedade que vai até a dor, e não pode ver os que estão no céu superior ao seu, nem, com mais forte razão, conversar com eles. E aquele que desce de um céu superior é privado de sua sabedoria, balbucia e chega ao desespero. Alguns habitantes do último céu, não tendo ainda sido instruídos que o céu consiste nos interiores do anjo, acreditavam que chegariam a uma felicidade celeste superior, se entrassem no céu onde estão os anjos que gozam essa felicidade. Foi-lhes então permitido entrar lá, mas, quando lá estiveram, eles não viram pessoa alguma, em qualquer lugar que eles procurassem - apesar de haver lá uma grande multidão de anjos -, porque os interiores desses estranhos não haviam sido abertos no mesmo grau que o dos anjos desse céu nem, por conseguinte, sua vista. Pouco depois, foram acometidos por uma angústia de coração a tal ponto que dificilmente podiam saber se estavam ou não com vida. Por isso, trataram logo de voltar para o céu de onde tinham saído, regozijando-se por se acharem de novo entre os seus, e prometendo nunca mais desejar coisas mais elevadas do que as que concordavam com a sua vida. Vi também anjos que desceram de um céu superior e foram privados de sua sabedoria a tal ponto que não sabiam qual era o seu céu. Não sucede o mesmo quando o Senhor eleva anjos de um céu inferior a um céu superior, para que eles vejam a Sua glória, o que ocorre freqüentes vezes. Para isso, esses anjos são primeiro preparados e, depois, acompanhados por anjos intermediários, pelos quais há comunicação. Pelo que precede, é evidente que esses três céus são muito distintos entre si.
                                       Em um mesmo céu, cada um pode ser consorciado com qualquer um que lhe apraz, mas os prazeres da consociação estão em relação com afinidades do bem em que se está. Este assunto será desenvolvido nos parágrafos seguintes.
                                       Ainda que os céus sejam de tal modo distintos que os anjos de um céu não possam ter relacionamento com os anjos de um outro, a verdade é que o Senhor conjunge todos os céus por influxo imediato e por influxo mediato - pelo influxo imediato que procede d'Ele em todos os céus, e pelo influxo mediato de um céu em um outro céu- e por esse modo faz com que os três céus sejam um e que todos sejam ligados do primeiro ao Último, de modo que nada existe que não seja ligado. O que não é ligado por intermediários com um Primeiro não subsiste, mas é dissipado e se torna nulo.
                                        Quem não sabe de que modo os graus estão relacionados com a ordem Divina não pode compreender como os céus são distintos, nem mesmo o que seja o homem interno e o homem externo. No mundo, a maior parte dos homens não tem noção dos interiores e dos exteriores, ou dos superiores e dos inferiores, mas somente do que é contínuo ou coerente por continuidade, desde o mais puro até o mais espesso. Entretanto, os interiores e os exteriores estão entre si em uma relação não contínua, mas discreta. Os graus são de dois gêneros: há graus contínuos e há graus não contínuos. Os graus contínuos são como os graus do decréscimo da luz, desde a chama até a escuridão, ou como os graus de decréscimo da vista, que da luz passam para a sombra, ou como os graus de pureza da atmosfera, desde sua profundidade até a sua parte mais elevada. As distâncias determinaram esse grau. Ao contrário, os graus não contínuos, mas discretos, foram diferenciados como anteriores e posteriores, como a causa e o efeito, e como o que produz e o que é produzido. Quem examinar a questão verá que em todas as coisas do mundo, tanto em geral como em particular, há graus de produção e de composição, isto é, que de uma coisa procede uma outra e desta uma terceira, e assim por diante. Quem não adquirir para si a percepção desses graus não pode, de modo algum, saber a diferença dos céus, conhecer as distinções das faculdades interiores e exteriores do homem, nem a distinção entre o mundo espiritual e o mundo natural, nem a distinção entre o espírito e o corpo do homem e, por conseguinte, não pode compreender o que são e onde estão as correspondências e as representações, nem de onde elas vêm, nem qual é o influxo. Os homens sensuais não percebem essas distinções, porque os crescimentos e os decréscimos, segundo esses graus, são por eles considerados contínuos. Por esse motivo, eles só podem conceber o espiritual como um natural mais puro. Por isso é que eles ficam também do lado de fora e longe da inteligência.
                                   É-me permitido, em última lugar, referir, a respeito dos anjos dos três céus, um arcano que até aqui não ocorreu à mente de pessoa alguma, porque os graus não foram compreendidos. É o seguinte: em cada anjo e também em cada homem há um grau íntimo ou supremo, ou um certo íntimo e supremo, no qual o Divino do Senhor influi primeiro ou de mais perto e segundo o qual Ele dispõe os outros interiores que vêm depois, segundo os graus da ordem no anjo e no homem. Esse íntimo ou supremo pode ser chamado a entrada do Senhor no anjo e no homem, e Seu domicílio mesmo neles. É por esse íntimo ou supremo que o homem é homem e se distingue dos animais brutos, porque os brutos não o têm. Daí vem que o homem, diferentemente dos animais, pode, quanto a todos os interiores que pertencem à sua mente e ao seu ânimo, ser elevado pelo Senhor para o Senhor Mesmo, crer n'Ele, ser afetado pelo amor para com Ele e, assim, ver o Senhor Mesmo e poder receber a inteligência e a sabedoria, e falar segundo a razão. Daí vem também que ele vive eternamente. Contudo, o que é disposto e provido pelo Senhor nesse íntimo não influi manifestamente na percepção de anjo algum, porque está acima de seu pensamento e excede sua sabedoria.
                                    São essas as coisas comuns aos três céus; no que vai seguir se tratará de cada céu em particular.

Um comentário:

  1. O apostolo Paulo foi o homem que arrebatado ao terceiro céu viu e ouviu coisas ineféveis do Santo Espírito. A santidade nos direciona para o terceiro céu.(II Co 12:1-14)

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