domingo, 9 de dezembro de 2012
Cabala
A palavra Cabala tem origem no vocábulo hebraico kibbel , significando lição, tradição, ensino. A Cabala é a tradição esotérica e o conjunto das doutrinas secretas dojudaísmo. Esta ciência oculta foi recolhida nas Escrituras e devia ser transmitida oralmente e nunca ser escrita, visando evitar que o texto caísse sob as vistas dos profanos.`
Os cabalistas datam as concepções primordiais da Cabala de tempos primitivos - que remetem a Moisés e até Abraão e Adão. Quanto aos verdadeiros fundadores da Cabala, entretanto, são mencionados três talmudistas: Rabino Ismael ben Ehsa (cerca de 130 d.C.); Rabino Nechunjah ben Hakana (cerca de 75 d.C.) e, sobretudo, Simeon ben Yohai (cerca de 150 d.C.), sendo este último apontado como autor do famoso Zohar.
Acredita-se que os ensinamentos da Cabala começaram de forma oral, que foi transmitida por Enoque aos seus descendentes, sendo que, posteriormente, Moisés, para evitar que seus ensinamentos se perdessem, comunicou-os aos setenta anciãos escolhidos, e daí para frente de forma escrita.
Mas, ao serem escritos os ensinamentos cabalísticos, foi utilizada a maneira mais simbólica possível, com o intuito da não compreensão profana, mas tão somente dos iniciados. Dois são os livros fundamentais da Cabala: 1º o Sefer Yetsirah, ou Livro da Criação, e o Zohar, ou Livro dos Esplendores.
A Cabala apareceu, na sua forma atual, por volta do século XII, repetindo, continuando e completando o ensino esotérico do Talmude. Na Bíblia temos os livros cabalísticos de Ezequiel e do Apocalipse, que foram escritos de forma velada, simbólica. A chave do seu ocultismo repousa, como a do Talmude, sobre o valor dos números, a combinação das 22 letras do alfabeto hebraico e a força oculta do Tetragrama.
O ensino da Cabala esmera-se em dar com precisão a definição da divindade vulgarmente denominada Deus, em fixar-lhe os atributos e em estabelecer o processo das manifestações do seu poder. A particularidade da Cabala é de repudiar toda idéia de antropoformismo na definição da divindade, de afastar toda possibilidade de figuração de Deus que é Infinito, inacessível, incompreensível... O Ser por excelência, o Verbo eterno conjugando-se, simultaneamente ao presente, ao passado, ao futuro: Jeová, Aquele que foi, que é, que será, Aquele cujo nome nunca deve ser pronunciado porque o profano não compreenderia que o Deus Todo-Poderoso, o Deus dos Exércitos não pudesse ter nenhum outro nome a não ser o verbo Ser.
A Cabala descobre todos os mistérios da criação neste simples nome, ao estudar o simbolismo representado pelas quatro letras formando este nome assim dividido: IOD, HE, VAV, HE (IHVH). Este nome é aquele que encontramos no cume de todas as iniciações, aquele que irradia no centro do triângulo lamejante da Maçonaria Universal.
A primeira letra, o IOD, figurada por uma vírgula ou um ponto, representa o princípio original das coisas, o ponto de partida da criação. Esta letra que ocupa o
décimo lugar no alfabeto hebraico, é representada pelo número 10, ele mesmo composto do número um, unidade, princípio, e do zero, representando o nada, por seu significado e o Todo por sua forma. No IOD ou número 10, a unidade, origem do Todo, alia-se ao Nada para formar o princípio inicial da Criação, princípio gerador, princípio masculino.
A segunda letra, o HE, quinta letra do alfabeto hebraico, representa o número 5, equivalente à metade do valor da primeira letra, 10. E o princípio inicial IOD ou 10 que se fraciona em dois, e que se desdobra. Tal é a origem do binário: masculino/feminino, ativo-passivo, positivo-negativo, homem -mulher. A energia criadora masculina junta-se à matéria fecunda feminina.
A terceira letra, VAV, ocupa o sexto lugar no alfabeto. Resulta da ação geradora do IOD sobre o HE, ao princípio masculino sobre o princípio feminino. E o filho, a resultante: um mais cinco igual a seis.
A quarta letra representa um segundo HE, novo elemento feminino, indispensável ao filho para possuir a faculdade de se reproduzir e de perpetuar o Ser. E o grão que contém em potência a geração futura e a possibilidade de garantir a Eternidade. JEHOVA, portanto, não é um nome, mas o símbolo da Criação e da Eternidade, do SER PERFEITO. Este nome não pode ser pronunciado a não ser uma vez por ano, e soletrado letra por letra no Santo dos Santos, pelo Sumo Sacerdote, Grão-Mestre da Arte Sacerdotal, no meio do ruído das preces do povo profano.
Todas as religiões dogmáticas saíram da Cabala e para ela voltam. Tudo quanto existe de científico e de grandioso nos sonhos religiosos de todos os
iluminados é tirado da Cabala. Todas as associações maçônicas lhe devem os seus Paul Naudon assim escreveu: Nada permite de resto de situar, no tempo, a adoção, pela Maçonaria dos sinais e símbolos que a Cabala utiliza. A instituição não foi uma criação espontânea; deriva em grande parte das associações arquitetônicas que a precederam ou inspiraram, como os colégios romanos, as associações monásticas, as guildas etc. Sofreu, igualmente, largas influências dos maçons aceitos cujo papel tornou-se progressivamente primordial com o declínio do elemento profissional.
As preocupações filosóficas desses maçons especulativos alquimistas, hermetistas, cabalistas, rosa-cruzes e seus subsídios esotéricos vieram juntar-se e completar os da Maçonaria. O fundamento de suas doutrinas repousava sobre o mesmo princípio da Maçonaria: o da imanência divina. O papel desses hermetistas foi importante na transição entre a Maçonaria operativa e a Maçonaria especulativa moderna. Mas a sua contribuição com um simbolismo egípcio, hebraico e siríaco não era mais que uma síntese que vinha integrar-se em um meio amplamente preparado pelos mais eminentes pensadores da Idade Média e da Renascença .
O programa do grau de Aprendiz compreende os números um, dois, três e quatro, donde os conceitos de unidade, de binário, de ternário e de quaternário. O do grau de Companheiro compreende quatro, cinco, seis e sete (tétrada sagrada, quintessência, rosa mística, hexagrama, setenário). O grau de Mestre estuda os números sete, oito, nove e dez (tri-unidade setenária, ogdoada solar, Eneada ou árvore dos Sefirot). Os dez Sefirot são dez emanações do Deus único: dez reconduz a um... Assim, a Cabala passa à Maçonaria seus ensinamentos mais expressivos.
O Arquétipo
Quando queremos figurar o homem, é sempre a imagem de seu corpo físico que se apresenta primeiramente em nosso espírito. Porém, este corpo físico não faz senão suportar e manifestar o homem verdadeiro, o espírito que o governa. Pode-se retirar milhões de células deste corpo físico, cortando um membro, por exemplo e a consciência não sofre danos. O homem-mente que nós somos é inteiramente independente dos órgãos , os quais não são mais que suportes e meios de comunicação.
O conjunto dos seres e das coisas revela a existência de Deus, como o corpo físico do homem revela e determina a realidade de seu espírito. As relações do espírito humano com o corpo humano são análogas às relações entre Deus e a Natureza. Deus, embora se manifeste na Humanidade e em todas as coisas da Natureza não se confunde com com estes seus aspectos infinitos; antes, possui uma existência metafísica independente de toda a Criação. ...Deus é, de fato, o conjunto de tudo o que existe assim como o homem é o conjunto de todos os orgãos e de todas as faculdades que possui. O homem verdadeiro, porém, o Espírito (ou a Mônada) é distinto do corpo físico, do corpo astral e do ser psíquico (a personalidade efêmera) ...Da mesma forma, Deus-em-Unidade é distinto da Natureza e da Humanidade. Em termos vulgares, a Natureza é o corpo de Deus e a humanidade é sua vida em mais alto grau de autoconsciência. No homem, o organismo é o corpo material denso do homem e o corpo astral e o ser psíquico são seus princípios vitais.
O Universo concebido como um todo animado é composto de três princípios: a Natureza, o Homem e Deus ou, empregando a linguagem dos hermetistas: o Macrocosmo, o Microcosmo e o Arquétipo. O homem é chamado Microcosmo, o pequeno Mundo, porque ele contém analogicamente em si as leis que regem o Universo. ...O homem influindo sobre a Natureza pela ação, sobre os outros homens pela palavra e elevando-se até Deus pela prece e pelo êxtase, constitui o elo que une a Criação ao Criador. ...Os fatos são do domínio da Natureza; as Leis, do domínio dos Homens e os Princípios, são o domínio de Deus.
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